A música que há em mim

É certo que há um tempo pra tudo, eu tinha a tendência de romantizar certas coisas, talvez porque outras eu queira escancarar violentamente, não sei, mas pensando sobre isso esses dias me dei conta de como a minha música foi silenciada por outras pessoas e como deixei que isso acontecesse.
Estive ultimamente me aproximando mais de manifestações culturais por meio da música e só por conta disso percebi o quanto eu mesma pouco me interessei por essa arte nos últimos anos. Eu acredito que das diversas formas de me silenciar, não elaborar a música conscientemente foi uma forma bem eficaz.
Mas a sorte favorece quem sorri pra ela, as vezes. Eu comecei a dar aulas de musicalização sem ter a menor ideia do que fazer porque recebi uma aluna que só tinha a função de ouvir, nem aos estímulos táteis ela respondia. Nós trabalhamos ritmo, alguns instrumentos de percussão, inclusive o próprio corpo, isso foi me dando ideias e motivações que eu não tinha antigamente, ampliar as perspectivas delxs e ajudá-los a entender conscientemente as próprias escolhas musicais foi bem legal, e me ajudou nas minhas. 
No ano seguinte tentei aprimorar junto das crianças e dxs professorxs parceirxs esse trabalho, tentando cada vez mais extrair da sua vivência social a melhor maneira de qualificar nossas experiências musicais, que só foram se intensificando nos dois anos que se seguiram. Sempre tive medo de sufocá-lxs com a minha perspectiva o senso estético delxs para a música, porque esse é o mesmo tipo de silenciamento que eu vivi de certa forma, acho isso de intenção extremamente duvidosa e arrogante, por outro lado sinto-me impelida a dizer que tal qual a comida que é diversa no país e no mundo inteiro e pode oferecer aprofundamentos culturais tão importantes, não existe gosto musical certo ou errado, mas conhecer todas as possibilidades antes de desenvolver suas preferências não só é estimulante como é uma ferramenta de empoderamento incrível.
Eu nem lembrava de todo esse processo quando comecei a pensar sobre isso, mas está sendo bem forte agora. 
Tão forte que a vida acabou me dando uma amiga que um dia me pediu textos para musicar, e coisas muito profundas que existem em mim ela transformou em algo delicado e lindo.

E novamente eu só tenho a agradecer!

Categorias:

DIGA-ME O QUE ACHA: