Cristovão Tezza em “O filho eterno”
…Mas o filho é um outro nascimento: ele não pode se separar dele. Todas as palavras que o novo pai recebeu ao longo da vida criaram nele esta escravidão consentida, esse breve mas poderoso imperativo ético que se faz em torno de tão pouca coisa: quem é a criança que está ali? O que temos em comum? O que, afinal, eu escolhi? Como conciliar a ideia fundamental da liberdade individual, que move a fantástica roda do Ocidente, ele declama, com a selvageria da natureza bruta, que por uma sucessão inextricável de acasos me trouxe agora essa criança? O próprio Rousseau abandonou os filhos, ele se lembra, divertindo-se. Muito melhor o Admirável mundo novo, aquela assepsia do nascimento sem dores nem pais. Vivemos grudados, mas em vez de sentir náusea da imagem – a invencível viscosidade das relações humanas -, ele sorri diante daquele pequeno joelho respirante e empacotado do outro lado do vidro: isso parece bom e bonito, o filho da primavera…
(Ainda estou na página 21, mas já acho que vale a pena)
http://www.cristovaotezza.com.br/critica/ficcao/f_filhoeterno/p_set07_ocontinente.htm
PS: Hoje até o livro é vermelho!!! Rs